Futebol Americano. Cascais Crusaders tentam impulsionar o "derradeiro desporto de equipa"

por Inês Geraldo - RTP
Cascais Crusaders treinam aos domingos em Alcabideche Inês Geraldo - RTP

Numa manhã de domingo, um grupo junta-se num campo de treinos para dar início a mais um dia de preparação. Em Alcabideche, os jogadores, equipa técnica e dirigentes dos Cascais Crusaders treinam para uma nova temporada que se avizinha. Sem o mediatismo e a cultura de outras modalidades em Portugal, esta equipa de futebol americano tenta mostrar como uma atividade que deve ser compreendida e cada vez mais valorizada.

Criada em 2005 por um grupo de amigos fãs de futebol americano, a equipa que hoje dá pelo nome de Cascais Crusaders é a mais antiga em atividade. O presidente, Vítor Frias, explicou à RTP Notícias que a história começou no Parque das Nações, até que chegou a Cascais onde encontrou apoio para continuar a atividade.

“É também a equipa que teve dois títulos há dois anos seguidos. Agora estamos a tentar recuperar o título”.

Vítor Frias apresentou uma equipa ainda amadora mas que trabalha de forma mais profissional possível, tentando incrementar a cultura do futebol americano em Portugal. “É uma tarefa difícil porque é uma equipa amadora mas tentamos sempre melhorar e incrementar as condições de trabalho, as capacidades dos atletas e estamos prontos para receber qualquer pessoa que queira praticar a modalidade”.Princípios básicos do futebol americano

O presidente dos Cascais Crusaders apresentou a modalidade como um jogo tático, muito semelhante ao xadrez.

“Quando me dizem muitas vezes que o futebol americano é parado no jogo, eu comparo sempre ao xadrez. É sempre um jogo muito tático, muito a pensar o que vai acontecer e mesmo quando está parado estamos sempre a pensar o que cada treinador e cada jogador está a pensar fazer e poder se focar para avançar”.

A modalidade tem um componente defensiva e uma outra componente atacante que fazendo parte do mesmo jogo, têm tarefas tão específicas que poucas vezes se encontram. No campo cada equipa tem quatro tentativas em que têm de ser percorridas dez jardas (pouco mais de nove metros) com o objetivo de chegar ao “touchdown”, termo muitas vezes ouvido para definir o final do campo do adversário.

“O objetivo é ir sempre competindo. A defesa tenta ao máximo parar essas quatro tentativas para que não consigam progredir, parar a jogada e conseguir ganhar a bola e passar a ser o ataque”.

Em termos de posições, o presidente dos Cascais Crusaders começou com aquela que é mais conhecida: o Quarterback. Vítor Frias comparou esta posição ao número dez do futebol, como o jogador que “espalha jogo” e que é o grande cérebro da equipa.

“É ele que vai decidindo o que vai acontecendo através de uma jogada de passe, através de uma jogada de corrida”.

À frente do quarterback estão cinco jogadores: os linhas ofensivos. Costumam ser os jogadores mais corpulentos que defendem o quarterback de possíveis placagens, defendendo-o ao máximo. Depois existem os receivers que têm como objetivo correr nas laterais e agarrar a bola.

O running back tem como objetivo ganhar jardas através da corrida para que a equipa chegue mais à frente.

Na defesa existem mais algumas posições com intuito de defender eficazmente a parte de trás do campo, travando o ataque (algumas das posições na defesa são o nose tackle, defensive tackle, defensive end, cornerback, safety e o linebacker).

“Nos Cascais Crusaders temos três equipas: a equipa do ataque, a equipa da defesa e depois uma equipa especial. Na verdade, a equipa especial nós misturamos nas outras duas equipas mas depois conseguimos separar o que é ataque do que é a defesa”.
O “derradeiro” desporto de equipa

Paulo Terrinca é treinador principal e coordenador ofensivo dos Cascais Crusaders e destacou a importância de conseguir chegar ao grande público para promover a modalidade. “Não é muito típica da nossa cultura portuguesa mas que já tem muitos adeptos. Falta as vias de comunicação para trazer mais adeptos para dentro do campo e para dentro dos estádios”.

Para Terrinca o futebol americano é o “derradeiro” desporto de equipa pela importância que o trabalho em equipa tem na estratégia das equipas. “Tudo é trabalhado em equipa, os jogadores treinam as suas posições específicas em função de outras posições dos colegas que estão ao lado”.

A dinâmica de jogo no futebol americano é o que o distancia de outros deportos coletivos. Paulo Terrinca acredita que há menos corrida mas que é isso que permite levar o trabalho de equipa ao “extremo”.

Sobre a nova temporada, o treinador acredita que a equipa está a fazer uma boa pré-época, destacando o compromisso dos jogadores e recuperar o título é o grande objetivo.

“O ano passado foi duro por várias razões. Foi um ano muito complicado para a nossa equipa e de uma forma muito direta foi um ano duro porque não ganhámos. Custou-nos muito não sermos campeões e neste momento estamos a fazer tudo para revalidar o título”.
Modalidade amadora, desportistas por gosto

Matias Manuel tem 30 anos e é engenheiro informático. Há muito que representa os Cascais Crusaders. Não pelo que a modalidade paga mas pelo gosto que tem pelo futebol americano. Gosto esse que começou primeiro com a NBA e depressa passou para a principal liga de futebol americano, a NFL.

O jogador é o quarterback da equipa e explicou os papéis da posição. “Um dos principais papéis é ser uma extensão do treinador dentro do campo, neste caso, do treinador ofensivo. O quarterback é a pessoa que passa o resto das jogadas para o resto da equipa e que tenta coordenar e organizar a equipa para depois executar a jogada”.

Matias descreve a sua posição como um “general” dentro de campo e destaca o lado tático do futebol americano: “visto de fora parece uma coisa caótica mas há muita coisa pensada, muitas coisas são trabalhadas e têm de ser executadas num nível pormenor imenso”.

Para conseguir jogar, Matias não deixa de trabalhar e revela que manter esse equilíbrio é um desafio e que apesar de a modalidade ser amadora, todos os seus intervenientes tentam ser profissionais mantendo vários cuidados para poder jogar.

O objetivo coletivo foi novamente sublinhado pelo líder da equipa: vencer as provas nacionais e ver a instituição Cascais Crusaders a crescer ainda mais.

Sobre os conselhos que daria a quem quiser jogar futebol americano, Matias pediu para que se deixem ideias pré-concebidas de lado e que não se pense que a modalidade é um “jogo de broncos”.

Foto: Inês Geraldo - RTP

“É um desporto físico. Não há como negar. Mas é um desporto com uma beleza tal atrás das cortinas. Quem realmente vem, deixa-se integrar e descobre algo que não tem nada a ver com outros desportos. Venham despidos de qualquer pretensão mas claro que têm de vir com mentalidade de que é uma mudança”.

Por último, o destaque vai para a camaradagem que se cria entre o grupoSempre disponíveis para receber

Em Portugal, há uma liga de futebol americano. É controlada pela federação portuguesa de futebol americano e conta sete equipas: quatro da região de Lisboa, duas da região do Porto e outra da região de Braga.

“Vamos competir todos contra todos, há o apuramento de quatro equipas e depois há os playoffs e depois a final entre as equipas que ganham”. A liga terá início para o fim de janeiro de 2025 e deverá terminar em maio. O presidente dos Crusaders espera que a equipa de Cascais volte a revalidar o título.

Vítor Frias fala também do futebol americano como um desporto eclético, próprio para dar uma função a todos e todas as idades são aceites.

“Nós aqui em Cascais claro que aceitamos todas as pessoas que queiram vir treinar connosco. Serão bem-vindos a vir treinar connosco”.
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